domingo, 17 de agosto de 2014

A PACA E O RATO

                                 

                                         
De acordo com as histórias, contos e fábulas sobre os animais silvestres, e no reino da bicharada a Paca e o Rato são primos em segundo grau. Ou como é de costume o sertanejo dizer: ”Primos segundo” Ambos são muito parecidos, na pelagem, no porte, no jeito de andarem, sentam de igual modo e em épocas remotas a Paca tinha rabo longo como o do Rato, este também era muito maior, são da espécie roedores, quadrúpedes, mamíferos e vertebrados, de hábitos noturnos, ás vezes saem de dia, é muito raro ver Pacas durante o dia, o Rato sai a qualquer hora, mas com muita cautela, devido aos predadores seus que além dos gatos tem corujas, caburés, gaviões de toda espécie, lagartos, cobras, seriemas e outras aves de grande porte como emas e outras. Alimenta-se de frutas, raízes. Da roça come de tudo:  Arroz, feijão, milho, mandioca, amendoim batatas e se morarem perto de casas é um convidado especial muito intrometido, é triste porque além de comer de tudo, estraga até roupas nos lugares que estiverem fácil. Acostuma com a gente de modo que nem se assusta com nossa presença. Só é cuidadoso com os gatos domésticos, seu principal inimigo. Transmissor de pestes, e outras doenças contagiosas, urina para tudo o que é lado em cima das coisas de comer, na agua de beber, enfim é uma verdadeira peste. Aprende a conhecer ratoeiras e armadilhas diversas que são armadas para lhe pegar. É tão sabido que os bocados envenenados, ele muitas vezes não come, se sente o odor do veneno, mas alguns caem. Quando desconfiam que na isca contem veneno, já urinam em cima dela, este gesto é um aviso para os demais companheiros que vierem após ele saberem que aquilo é perigoso. Todos conhecem a senha e ninguém mais cai. Todos escapam! Moram em ocos de pau, coqueiros podres, cupins e em buracos no solo. Fazem ninhos para suas crias que são numerosas até uma dúzia de filhotes. É totalmente terrestre. Já a Paca vive na mata, capoeirões onde tem córregos, rios, lagoas, não chega ser anfíbia, é meio termo e alimenta-se de frutas em geral, milho, feijão verde, mandiocas, batatas é de natureza selvagem, dificilmente se adapta a costumes na casa da gente como animal doméstico. Gosta de sair somente de noite, de preferência nas noites escuras, sem luar. Por ser um animal sutil e desconfiado de natureza, os homens fazem “Esperas” e as tocaiam de noite, é de carne muito saborosa, parece com leitão novo seu sabor, se for assada é uma delicia. É muito caçada! Armadilhas também são usadas para lhe capturar! Caem com muita facilidade, é trouxa mesmo, diferente do primo que é esperto demais! Os seus predadores são muitos também, a sucuri, jiboias, gatos-do-mato. Jaguatiricas, onças, águias, gaviões reais, lobos e todos os demais felinos e canídeos, mas sabe defender bem a vida, por isso mora na beiradinha da agua, qualquer sinal de perigo: Tibummmmmm,  cai n’agua e mergulha saindo longe dali, engana o seu perseguidor. Tem sempre uma entrada ou saída subaquática de sua toca ou morada. Apesar de muito pouco se diferenciarem, quase não se encontram! Salvo neste caso que iremos contar uma de suas aventuras. Reconheceram serem parentes, surgiu uma bela amizade entre eles a ponto de toda noite se encontrarem e andarem em busca do que comerem, quando achavam algo, eles tinham o capricho de dividirem o jantar. Num dia desses tinha chovido á tardinha e a noite estava uma maravilha para andarem. Tinham caminhado muito sem nada encontrar para a janta daquela noite. Sentaram um de frente para o outro e começaram a pensar! Já é tarde e nada encontramos! Vamos atravessar o ribeirão e ver se lá do outro lado tem o que precisamos. Os dois saíram e na beirada dele o Rato achou um cipó caído que se estendia até a outra margem, rapidinho trepou nele e já estava lá do outro lado. A Paca caiu n’agua nadou, e já estavam juntos. Não censurou o primo por ter escolhido o cipó para fazer a travessia, sabedora que rato não gosta de agua, a não ser para beber kkkkkkkkkkkkk! Andaram pouco e logo viram uma coisa que arregalaram os olhos de espanto: Um monte de espigas de milho douradas, penduradas num pau arcado e por baixo de um tronco mais grosso cercado dos lados. Exclamou: Primo, só pode ser presente dos céus um negócio deste? Estamos fartos desta vez! O Rato nem suspirava de espanto! Nunca vira aquilo também, mas sentiu um calafrio na espinha. Pensou consigo só: O que será isso? Ficou meio cismado com aquela aparição! Kkkkkkkkkkkkk. O Rato disse: Prima, isso está muito alto, eu não alcanço pegar para nós! Deixa comigo primo que eu alcanço. Levantando as patinhas dianteiras abocanhou aquilo e puxou para si. Era uma armadilha, fez um reboliço aquele tronco e a vara caindo por cima dela. A Infeliz só teve tempo de dar um salto pra frente, mesmo assim ficou presa pelo rabo, e bem presa. Com aquela barulheira o rato sumiu no mato e ela ficou sozinha. Primo! Ô primo! Clamava ela. Venha me socorrer que estou presa! Medroso que só ele! O primo estava longe dali! Nem escutava! Kkkkkkkkkkkkkk. Depois de uma meia hora lá vem o primo sorrateiro e com muita cautela. Parou, escutou! Não viu nada de perigo e chegou de fininho. O que foi prima? É o que vês primo? Fiquei presa pelo rabo! Dê um jeito e me tira daqui, senão estou perdida, meu rabo está doendo muito entre esses enormes toros de madeira! Rôa eles primo? Mas como, disse o Rato! São enormes! Não tem como roê-los. E agora? Como faremos para mim sair daqui? Não sei disse o Rato! Ele rodeou, olhou e subiu em cima do tronco, ai a Paca berrou: Desce daí primo? Estou louca de dor e você ainda fica trepado em cima? Me doí o rabo que não suporto! O Rato desceu, pensou, passou a mão no queixo segurou e cofiou um fiapo dos bigodes e disse: Só achei uma solução para o seu caso! Cortar o teu rabo bem no pé! Melhor ficar sem ele do que os homens te pegarem viva! Isso é uma armadilha das piores que já vi!  Nossa, primo, e você conhece isso? Claro que conheço disse o Rato! Bem que desconfiei! Os homens são terríveis, fizeram para te matar, tivestes muita sorte de ficar presa só pelo rabo!  Vamos cortar como? Ponderou a paca! Espere ai um pouco dissera o rato, sumiu no mato e daí a pouco lá vem ele com uma folha de Caraguatá, aquela planta nativa de capões secos com serrilha nas beiradas, A “Abacaxizeiro do mato”. São folhas compridas parecendo serrote de dois gumes. A paca viu aquilo, entendeu e logo pensou na dor que teria que passar. Pensou: O primo age correto, melhor doer do que morrer. O rato segurou firme na folha e mandou a serra no rabo da prima. Cada esfregada era um guincho dela, mas suportou. Saia pelos, fiapos de couro, sangue, carne até deu na juntinha dos ossinhos do rabo. Acabou a serrilha de uma folha, ele foi buscar outra, até que serrou tudo! Terminada a tarefa a pobre paca onde sentava, ficava uma mancha de sangue no chão. O rato esfregou terra, na cicatriz até o sangue estancou. A paca agradeceu o primo e disse: Vamos embora daqui, nunca mais volto num lugar destes. Quem desta escapou, cem anos vive! O rato disse: E o nosso jantar? Como é que fica? Fez a prima roer as palhas da espiga, e cada um levou uma. Foram embora já no clarear do dia. Como primos e amigos das horas difíceis, se querem bem até os dias de hoje, é por isso que a paca não tem rabo.

HISTÓRIAS QUE IMAGINAMOS PARA “COISAS DE CABOCLO DE LUIZÃO-O-CHAVES”
ENRIQUECENDO O NOSSO FOLCLORE QUE NO DIA 28 DE AGÔSTO SE COMEMORA.

ANASTÁCIO MS, 15/08/2014           LUIZ MOREIRA CHAVES. 

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